quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Gelo, muito gelo...


Devia ter ouvido o guia... Ele disse especificamente para não provar o glaciar! Gelo, frio, língua, molhado... Teimoso como sou encostei a língua e agora aqui estou, colado ao glaciar, pendurado pela língua e enregelado... Também ninguém me mandou voar tão perto, não me chegava ver o glaciar de longe? Agora esta montanha viva de água congelada que range e desce vagarosamente empurra-me a mim também, levando-me consigo ao ritmo de milénios para a margem onde um dia irá encostar. Olho o céu azul e branco, para não conhecer a vertigem da distância que me separa da água que, pequenina, me espera debaixo dos meus pés. De quando em vez sinto a vibração que antecede o ruído ensurdecedor do gelo que se desprende, caindo desamparado lá em baixo. Mas não tenho medo, antes espero pacientemente a minha vez, dependurado pela língua, fechando os olhos para me sentir parte desta massa que me gela e me fascina. E, de repente... Eis que sinto a vibração perto de mim, ouço o ruído e lá vou eu, caindo desamparado, como em câmara lenta, até mergulhar na fria água. Tive sorte, afinal de contas podia ter demorado mais... Agora é só deixar que a água me navegue preguiçosamente lago abaixo e esperar que o sol derreta o gelo para ter a minha língua de volta. E tudo isto para nada, é que no final de contas o glaciar sabe, imagine-se, a gelo...

Glaciar Perito Moreno - El Calafate, Argentina, Maio 2009







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