segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Parada

Olhando a parada que celebra a independência da Bolívia, com Evo Morales acenando lá de cima à gente que o olha cá de baixo, eu sonho. Sonho com o dia em que a desfilar na parada celebrando um país não haja militares nem armas. Desfile gente, normal gente, gente que faz o país. Venham palhaços e sapateiros, maestros e músicos outros, carpinteiros e pedreiros, banqueiros e cauteleiros. Venham poetas e escritores, metalúrgicos e empresários, os que estudam e os que não, as donas de casa e seus filhos, pescadores e agricultores, porteiros e taxistas, os árbitros e desportistas. Venham arquitectos, engenheiros, doentes, médicos, enfermeiros, bombeiros e condutores. Venham os loucos e insanos, sem eles não há parada, venham políticos também, não fiquem só na bancada, juntem-se ao povo os militares, a todos que somos iguais, que não só de armas e guerra são feitos os arsenais. Venha um país todo, cheio, de gente que o preenche e faz, na luta de cada dia por viver e ser feliz . Mostre-se ao mundo o país, tudo o que ele contém, não apenas a pistola que as fronteiras mantém. Mostre-se tudo o que faz esse país especial, a arte, a luta, o trabalho, o sangue e suor derramados, o orgulho em ser humano, e o amor, sim o amor. Não se mostre ódio ou rancor ou racismo ou estupidez. Abrace o nacional o estrangeiro, como ilustre convidado, abram-se as portas do que é nosso a quem quer saber o que somos. Chega de ódios e lutas, de fronteiras e de guerras, chega de limites e prisões que nos tiram a liberdade. O mundo é de todos, de todos! Celebremos o país como cultura que é, não com um qualquer galinheiro de farpado arame envolto. Sonho com o dia em que desfilando na parada celebrando um país não haja militares nem armas. Sonho, mas para quando o dia em que não vou ter de sonhar?

Sucre, Bolivia, 5 de Agosto 2009







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