sexta-feira, 3 de julho de 2009

Eis o fim do Mundo!

Os céus não se abrem, nem deles caem chamas flamejantes. Também não há dragões cuspindo o fogo que Magalhães viu um dia ao longe. O infinito não se abre em fundas fendas e crateras para nos engolir, nem ecoam estridentes trombetas nos céus para nos avisar que o nosso dia chegou. Muito menos vejo pessoas a correr apavoradas, espavoridas, perdidas ou achadas. Do céu pequenos flocos brancos é o pouco que cai, e os brancos dragões que há debicam desinteressadamente as águas. O fogo, há muito extinto pela cobiça dos conquistadores, fica apenas no nome desta terra e na memória dos indígenas que um dia aqui viveram. Em vez de fundas crateras há enormes montanhas que se elevam no ar, fazendo-nos pequeninos, engolidos na sua beleza. E o ruído calmo da terra que gira sobre si mesma e em redor do sol é tudo menos ensurdecedor. Os meus passos calmos, seguindo os dos que me rodeiam, mostram-me que o Apocalipse não é agora, ou talvez apenas que o fim do Mundo afinal não é feio mas deslumbrante. Mas, pelo sim pelo não, pego em mim, dou meia volta e continuo. Pode até ser o fim do Mundo, mas não é ainda o fim da minha viagem. Há muito chão para andar, é só dar meia volta e seguir.

Ushuaia, Tierra del Fuego, Argentina, Abril 2009




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